Economia mundial em 2025:
crescimento lento e riscos elevados

10 de julho de 2025

A Allianz Trade antevê para 2025 e 2026 um crescimento económico frágil, marcado por tensões comerciais, incerteza geopolítica e desafios orçamentais. O estudo divulgado recentemente conclui ainda que Portugal destaca-se como um dos países com maior estabilidade orçamental e financeira, mesmo num contexto de desaceleração da atividade económica

As previsões da Allianz Trade apontam para um crescimento da economia mundial de apenas 2,5% em 2025, o valor mais baixo desde 2008 fora de períodos de recessão. A previsão de crescimento global do comércio de bens e serviços é igualmente contida, com uma taxa de apenas +1%, devido a persistência de tensões entre grandes blocos económicos e à imposição de tarifas sobre produtos estratégicos.

Portugal atravessa uma fase de transição política, com a realização de eleições antecipadas em maio passado – as terceiras em três anos – na sequência da queda do anterior governo minoritário. A coligação liderada pela Aliança Democrática (AD) foi reconduzida como força maioritária, tendo Luís Montenegro retomado funções como Primeiro-Ministro. O estudo destaca que este desfecho eleitoral sinaliza continuidade nas políticas públicas e evita riscos de derrapagem orçamental. Portugal permanece num caminho de consolidação fiscal, como um excedente orçamental em 2023 e uma redução expressiva da dívida pública, que passou de um pico de 123,9%, em 2021, para 94,9% do PIB em 2024.

Contudo a evolução do PIB deverá revelar um abrandamento: a economia portuguesa contraiu 0,5% no primeiro trimestre de 2025, após um forte crescimento de 1,4% no último trimestre de 2024. Este recuo explica-se pela deterioração da procura externa – com as exportações em queda e as importações a subir – e pelo enfraquecimento do consumo privado.

A Allianz Trade revê em baixa o crescimento de Portugal para 1,2% em 2025, com uma ligeira recuperação de 1,4% prevista para 2026. Apesar deste contexto, o risco de insolvência em Portugal permanece controlado, com projetos estáveis de cerca de 2.300 processos por ano até 2026, ainda ligeiramente abaixo dos níveis pré-pandemia.

O crescimento da Zona Euro deverá atingir 1,2% em 2025, impulsionado pelas economias mais pequenas, como Espanha (+2,2%). Em contraste, a Alemanha, afetada por atrasos nos estímulos e pelo impacto das tarifas, crescerá apenas 0,1% este ano, com recuperação esperada apenas em 2026 (+1%).

A política monetária diverge entre os dois lados do Atlântico. O Banco Central Europeu continuará a aliviar as taxas de juto, prevendo-se que o refinanciamento atinja 1,5% até ao final do ano, sustentado pela desinflação e pela fraca procura. Já a Reserva Federal norte-americana manterá os juros elevados (4,5%) até dezembro, com cortes previstos só em 2026.

A trégua temporária entre os EUA e a China levou à descida das tarifas bilaterais de 103% para 39%, mas o ambiente comercial continua volátil. Persistem riscos de novas tarifas unilaterais dos EUA sobre a União Europeia, com destaque para o setor automóvel, produtos farmacêuticos, metais e componentes industriais.

No EUA, o défice orçamental deverá ultrapassar 8% do PIB em 2025, pressionado pela renovação dos cortes fiscais de 2017 e pela subida dos encargos com juros. A Allianz Trade alerta para uma probabilidade superior a 30% de recessão nos EUA e para sinais crescentes de estagflação.

Na Europa, os aumentos da despesa com defesa, exigidos pelos EUA no âmbito da NATO (superior a 3,5% do PIB), estão a atrasar a consolidação orçamental. A Comissão Europeia ativou a cláusula de exceção do Pacto de Estabilidade, permitindo aos países aumentar a despesa com defesa até 1,5% do PIB.

O ambiente empresarial global em 2025 é desafiante. A fraca procura, combinada com custos elevados e reorganização das cadeias de abastecimento, leva as empresas a atomizar stocks e a rever preços para manter margens. A taxa de crescimento do crédito na Europa é apenas +2%, apesar da descida de 200 pontos base nas taxas do BCE.

O índice global de insolvências subiu +6,5% no primeiro trimestre de 2025, com destaque para os setores automóvel, construção e farmacêutico – este último sob pressão regulatória e de preços. Nos EUA, os cortes na imigração estão a agravar a escassez de mão de obra na construção, atrasando projetos e elevando custos salariais.

Apesar do contexto adverso, os mercados de capitais têm surpreendido pela positiva, os mercados de acionistas europeus registaram +18% de valorização desde o início do ano, impulsionados pela recuperação pós “Dia da Libertação”. Os analistas antecipam, no entanto, uma estabilização dos ganhos no segundo semestre.

O dólar norte-americano, embora fragilizado pela incerteza fiscal, deverá manter alguma força relativa, sustentado pelos diferenciais de taxas reais e pela ausência de fugas significativas de capital.