Divisão transatlântica nas
Necessidades de Fundo de Maneio (WCR)

20 de junho de 2025
A Allianz Trade, líder mundial em seguros de crédito comercial, publicou o seu relatório sobre as Necessidades de Fundo de Maneio (WCR - Working Capital Requirements) e Prazos Médios de Recebimento (DSO - Days Sales Outstanding). O estudo revela um afastamento crescente entre as estratégias empresariais nos EUA e na Europa, revelando de que forma as empresas estão a responder à incerteza económica, à fraca procura e às alterações nas políticas comerciais.
  • Em 2024, as Necessidades de Fundo de Maneio (WCR - Working Capital Requirements) registaram uma recuperação acentuada, atingindo o nível mais elevado desde 2008 (um aumento de dois dias, situando-se agora nos 78 dias), impulsionados sobretudo pelo alargamento dos prazos de pagamento (DSO +2 dias).
  • As empresas europeias assumiram, na prática, o papel de financiadores ocultos da economia, disponibilizando cerca de 11 mil milhões de euros em crédito comercial. Já as empresas norte-americanas canalizaram a liquidez libertada para a remuneração dos seus acionistas.
  • Se as tarifas previstas no âmbito do “Dia da Libertação” forem totalmente aplicadas, as empresas terão de financiar um montante adicional de 8,5 mil milhões de euros na Europa e de 15.5 mil milhões de dólares nos EUA – o que equivale a três dias de volume de negócios.

Requisitos Globais do Fundo de Maneio atingem o nível mais alto desde 2008

Em 2024, as Necessidades de Fundo de Maneio (WCR) aumentaram dois dias, totalizando 78 dias – o valor mais elevado desde a crise financeira global – com poucos sinais de abrandamento no início de 2025. Embora esta tendência se tenha verificado na maioria das regiões, a Europa Ocidental destacou-se com um aumento de quatro dias, pelo terceiro ano consecutivo, enquanto a região Ásia-Pacífico (APAC) registou uma subida moderada (+2 dias). Em sentido contrário, os EUA registaram uma diminuição, impulsionada pelas reduções de inventários.

“No quarto trimestre de 2024, 35% das empresas a nível global apresentavam WCR superiores a 90 dias de volume de negócios, e os dados parciais apontam para uma recuperação trimestral ligeiramente acima da média,” afirma Ano Kuhanathan, Head of Corporate Research da Allianz Trade. “Contudo, os inventários das empresas norte-americanas diminuíram, apesar das importações em níveis recorde, o que indica um aprovisionamento seletivo e não um aumento generalizado de stocks. Esta dinâmica impulsionou os lucros e libertou capital, criando condições para que os programas de recompra de ações superem 1 mil milhões de dólares em 2025 (com 234 mil milhões anunciados no primeiro trimestre). As empresas norte-americanas não estão a apostar em crescimento, estão a desviar capital dos armazéns para as carteiras e das fábricas para os acionistas”.

Sete setores foram os principais responsáveis pelo aumento do WCR na América do Norte, Europa Ocidental e APAC, impulsionado por uma fraca procura: equipamentos de transporte, indústria química, energia, retalho, equipamentos industriais, metais e software / serviços de TI. Em contraste, as reduções no WCR foram mais dispersas, com a maioria dos setores nos EUA a registarem melhorias e alguns setores específicos na Europa (papel, serviços B2C e hotelaria) a apresentarem quedas.

Prazos de pagamento mais longos são o principal responsável, especialmente na Europa, onde as empresas atuam como “bancos ocultos”

Em 2024, os Prazos Médios de Recebimento (DSO – Day Sales Outstanding) a nível global aumentaram dois dias – ligeiramente acima da subida verificada no WCR – tornando-se assim o principal fator na recuperação do fundo de maneio. Em paralelo, os Prazos Médios de Pagamento (DPO – Day Sales Outstanding) aumentaram ligeiramente (+1 dia) e os Prazos Médios de Rotação de Stocks (DIO – Days Inventories Outstanding) mantiveram-se estáveis. Entretanto, as empresas europeias aumentaram o DIO, mantiveram elevados níveis de contas a receber e reduziram os prazos de pagamento (substituir por DPO?), o que resultou num WCR significativamente mais elevado.

Com inventários mais altos e prazos de pagamento mais curtos, as empresas europeias têm financiado os seus parceiros comerciais, prolongando os prazos de recebimento e absorvendo o risco,” afirma Maxime Lemerle, Lead Analyst for Insolvency Research da Allianz Trade. “Entre o quarto trimestre de 2024 e o primeiro trimestre de 2025, as empresas disponibilizaram mais de 11 mil milhões de euros em crédito corporativo – um valor quase equivalente ao fluxo mensal de novo crédito concedido pelos bancos desde o início do ano”.

O que pode correr mal com a guerra comercial em curso?

Num contexto de incerteza sem precedentes e em que as tensões comerciais deverão continuar, o crescimento económico global deverá manter-se no nível mais baixo desde 2008, excluindo episódios de recessão. Neste cenário, a fraca procura continuará a penalizar o volume de negócios das empresas em 2025. Com as empresas norte-americanas a operarem com inventários mais baixos e as europeias a acumularem risco de crédito significativo, ambas permanecem vulneráveis ao aumento das necessidades de financiamento.

 

Num cenário adverso, o WCR poderá sofrer um agravamento significativo. Se as tarifas anunciadas no “Dia da Libertação” forem implementadas nas percentagens previstas, o crescimento do PIB será reduzido em 1 ponto percentual, pressionando o WCR em alta; as empresas teriam de financiar mais de 8,5 mil milhões de euros na Europa e 15,5 mil milhões de dólares nos EUA face às nossas previsões base (o equivalente a três dias de volume de negócios em ambas as regiões). De forma semelhante, se a política orçamental derrapar e ocorrerem choques inflacionistas do lado da oferta que levem a um aumento das taxas de juro de +1 ponto percentual, o WCR poderá subir 14 mil milhões de euros na Europa e 26 mil milhões de dólares nos EUA”, explica Ana Boata, Head of Macroeconomic Research da Allianz Trade.