Independentemente de quem vencer a nomeação pelo partido Democrata, ou mesmo a eleição geral em novembro, é certo que a dívida pública dos EUA continuará a crescer. De fato, mesmo sem alterações na legislação atual, o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) prevê que a dívida pública aumentaria de US$ 17,9 trilhões, ou 80,8% do PIB no final de 2020, para US$ 31,4 trilhões, ou 98,3% do PIB, ao final de 2030.
Está escalada na dívida se deve sobretudo a programas de benefícios de larga escala, Previdência Social, programas de saúde como o Medicare e o Medicaid, e o programa de Bem-estar Social, que atualmente ocupam 2/3 de todas as previsões de orçamento e devem crescer ainda mais. Esses programas sofrem com a fatia demográfica, que não cansa de crescer, da população idosa que se beneficia desses programas, sem um número suficiente de pessoas mais jovens para pagar pelos programas. Além disso, é suicídio político tentar alterar esses programas, então eles não devem ser cortados de qualquer maneira substancial. Os dois candidatos mais prováveis aumentarão essa dívida, ainda que demonstrem uma diferença marcada em suas plataformas e planos fiscais.
Os planos de Biden, simplificando, incluem um aumento de gasto de US$ 3,2 trilhões nos próximos dez anos, para além da projeção do CBO de US$ 60,7 trilhões. Teoricamente, ele também tem aumentos de impostos suficientes para compensar. Em seus planos, a dívida só subiria um pouco mais do que em relação às projeções atuais. Qualquer aumento no endividamento deve ser evitado, mas os planos de Biden parecem ter pouco efeito para além dos aumentos já planejados.
Os planos de Sanders visam mudanças enormes no governo federal, correspondendo à sua alcunha de "social democrata". Efetivamente, ele quer aumentar os gastos do governo em cerca de 70%. Ele propôs novos programas sociais massivos, incluindo o "Medicare for All" (atendimento de saúde para todos), que custaria US$ 17,5 trilhões; o "New Deal Verde" (para fins ambientais), que custaria US$ 16,3 trilhões; zerar gastos com ensino superior por parte dos alunos, e muitos outros itens. O total fica cerca de US$ 40 trilhões acima dos gastos atuais por 10 anos. Sanders planeja pagar sua plataforma com miríade de novos impostos e aumentos de impostos, mas parece que eles não conseguiriam compensar todos os gastos. Se assumirmos que os impostos subirão US$ 10 trilhões ao longo do período de 10 anos, os programas de Sanders trariam uma soma enorme à dívida pública, fazendo com que dobrasse e chegasse a cerca de US$ 60 trilhões, ou 196% do PIB. Essa política colocaria um fardo insustentável sobre a economia dos EUA.
As últimas orientações fiscais da Casa Branca, conforme representado pelo lançamento mais recente de seu Orçamento para o Ano Fiscal de 2021, defendem uma redução de déficit em US$ 4,6 trilhões até 2030. No entanto, as suposições subjacentes de crescimento nessas projeções parecem ser exageradamente otimistas, uma vez que apostam em um desempenho de crescimento real médio do PIB de +2,8% a/a. Em um contexto de crescimento reduzido da produtividade e envelhecimento da população, isso é altamente improvável. É claro que há diferenças significativas entre as opções orçamentárias contidas nessas novas propostas de orçamento e as propostas dos Democratas. A Casa Branca propõe cortes nos gastos com saúde, ensino e programas sociais em favor de gastos mais altos com o exército e uma extensão da Lei de Cortes de Impostos e Empregos de 2017 (TCJA) para além de 2025.
No entanto, ao olhar para os diferentes programas e combiná-los com as suposições do CBO no cenário de base (correspondente às orientações da gestão atual), percebemos que o nível atual do déficit público continuará elevado, independentemente do vencedor das eleições. A dívida pública dos EUA deve continuar em um caminho insustentável.
A economia dos EUA terá que aguentar um nível persistentemente elevado de incerteza em 2020
Os anos recentes viram o nível de incerteza aumentar significativamente depois que o Presidente Trump optou por uma abordagem mais protecionista em sua política comercial. A deterioração das relações comerciais entre os EUA e a China ativou uma desaceleração significativa do comércio global. A economia dos EUA não estava imune ao impacto desse choque, uma vez que grandes empresas dos EUA continuam dependentes da demanda estrangeira. Como resultado, o ciclo de investimento dos EUA perdeu o impulso progressivamente, apesar da resiliência da demanda doméstica. Com o impacto do surto de Covid-19 considerado elevado no ano eleitoral, esperamos que a economia dos EUA continue sob pressão, com um nível imenso de incerteza. Esse é o motivo pelo qual esperamos um crescimento de apenas +1,6% a/a em 2020, comparado com +2,3% a/a em 2019.
Em 4 de março, o Federal Reserve decidiu cortar as taxas de juros em meio ponto percentual como medida de emergência para impulsionar a economia dos EUA em meio aos riscos gerados pelo surto de Covid-19. Este é o primeiro corte emergencial desde a crise financeira de 2008-09. Esperamos mais um corte de 25bp em junho para 0,75%.