Mesmo antes da Covid-19 mudar nosso estilo de vida, o risco social e político já estava aumentando em vários países e regiões, em grande parte devido à má gestão da proteção social. À medida que as economias avançadas e emergentes tentam “reconstruir melhor”, proteger os mais vulneráveis e aqueles anteriormente esquecidos pelo motor econômico, também deve ser uma prioridade. Nos países desenvolvidos, existem cinco pilares para a prosperidade: educação, saúde, lazer social e cultural, qualidade ambiental e acesso à tecnologia de informação, comunicação e transporte. Abordar esses pilares em comunidades carentes ajudará a comunidade global, não apenas a reconstruir melhor, mas também a reconstruir com mais força, segurança e sustentabilidade.
Analisaremos esses pilares sob a perspectiva do nosso Índice de Risco Social (SRI, da sigla em inglês), que desenvolvemos e introduzimos em 2020. O SRI identifica os pontos fortes, fracos e percepções subjacentes das estruturas políticas, institucionais e sociais de um país, sinalizando a suscetibilidade geral a eventos de “risco social sistêmico” que podem mudar o jogo no que diz respeito à política, bem como às decisões de negócios e investimentos. Este ano, ampliamos o escopo do SRI para 185 países (de 102 na análise de 2020), englobando quase todas as nações soberanas. Identificamos países e regiões que experimentaram uma mudança significativa em seu nível de risco social sistêmico no decorrer da pandemia, para melhor ou para pior, e fizemos um balanço das respostas às políticas econômicas.
Economias avançadas (EAs): a resposta “custe o que custar” valeu a pena
O que pode surpreender alguns leitores é que o risco social sistêmico nas EAs diminuiu durante os primeiros 18 meses de pandemia, de acordo com nossa análise. A pontuação média do SRI de 26 EAs aumentou +3,0 pontos em dezembro de 2021, indo para 74,2 pontos (consulte a Figura 1). As EAs experimentaram um declínio acentuado na tendência de crescimento real do PIB per capita e uma diminuição moderada na taxa de participação da força de trabalho. Ambos refletem o impacto da crise da Covid-19 na economia e no emprego. Entretanto, o impacto negativo sobre esses dois componentes foi mais do que compensado por aumentos nas pontuações com gastos sociais públicos, importações de alimentos e combustíveis e depreciação da moeda. Graças as medidas massivas de estímulo fiscal, todos as EAs puderam fornecer melhor proteção social as suas respectivas populações do que muitos países emergentes (EMs). As importações de alimentos e combustível conseguiram ser mantidas durante a pandemia - em contraste com muitos países mais pobres que não puderam pagar por isso. Além disso, moedas estáveis em relação ao dólar também foram favoráveis para as importações e a relativa paz social. Os outros sete componentes, principalmente os mais estruturais do SRI, permaneceram relativamente estáveis nos últimos um ano e meio nesse grupo de países.
Todas as EAs estão classificadas entre as melhores 44 de 185 economias, quase inalterados desde junho de 2020. A Dinamarca defendeu sua liderança com uma pontuação SRI de 84,5 em um máximo de 100, seguida por seus três vizinhos nórdicos e a Suíça. A Alemanha está em sétimo lugar (abaixo do quinto lugar em 2020, apesar de uma melhoria de 2,4 pontos para uma pontuação SRI de 78,8). A taxa de participação da força de trabalho não se deteriorou na Alemanha, graças ao generoso esquema “Kurzarbeit”. Porém, a eficácia do governo diminuiu, embora de um nível alto.
Figura 1: Pontuação do Índice de Risco Social Médio (SRI) para grupos de países selecionados (sendo 0 = risco mais alto e 100 = risco mais baixo)