O risco de 9 milhões de "empregos zumbi" na Europa

17 de Junho de 2020

Quase um terço dos trabalhadores europeus estão se beneficiando dos programas de apoio ao emprego (veja a Figura 1). O sucesso do Kurzarbeit durante a Grande Crise Financeira, certamente levou muitos países da região a adotar acordos de trabalho de curto prazo para amenizar os impactos da Covid-19.

As empresas podem reduzir as horas de trabalho, com os governos substituindo grande parte da renda perdida (entre 60% e 100%). Ainda assim, esperamos que 4,3 milhões de pessoas percam o emprego nos cinco maiores países do continente.

Figura 1: Taxa de desemprego e número de trabalhadores em programas de trabalho (% do contingente de 2019)

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Fontes: Refinitiv, Allianz Research

Os líderes europeus estão revendo as políticas de desemprego implementadas durante o primeiro semestre. A promessa é adotar medidas mais duradouras, porém menos generosas. Os setores de crescimento tardio serão priorizados. Transporte, Turismo, Entretenimento, Varejo e Construção receberão a maior parte dos esforços de proteção ao emprego, uma vez que os níveis de atividade anteriores à crise não devem ser alcançados até o final de 2021.  Listamos abaixo as quatro principais razões que nos levaram a essa conclusão:

1.       As restrições sanitárias continuam afetando diretamente a atividade desses setores – desde regras de distanciamento social que limitam o número de pessoas em restaurantes e lojas até a proibição generalizada de viagens ou eventos internacionais;

2.       O distanciamento social autoimposto devido à continuidade das preocupações com o contágio, ainda que as restrições sejam abandonadas, afetará especificamente o consumo de bens e serviços que exigem contato direto;

3.       A elevada incerteza da economia doméstica, impulsionada por temores generalizados de emprego e insolvência, continuará a prejudicar planos de contratação e investimento; e

4.       A dependência da demanda externa, uma vez que a recuperação econômica é desigual entre os países e regiões.

Figura 2: Ventos contrários de recuperação e obstáculos setoriais

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Fonte: Allianz Research

Nos cinco maiores países europeus, 20% dos trabalhadores (~9 milhões de pessoas), que estão inscritos nos programas de apoio ao emprego, podem ficar desempregados em 2021. A recuperação lenta da indústria e o efeito do esgotamento das políticas estão entre as principais causas.

Esses são os que chamamos de “empregos zumbi”; subsistem através de programas que são criados para evitar o desemprego em massa.

Os setores de crescimento tardio empregam cerca de 115 milhões de trabalhadores na UE, ou seja, 49% do emprego total. A nível nacional, a parcela do emprego total nestes setores varia de 42% na França a 50% na Itália. Ao considerar a intensidade do emprego por setor em relação ao valor agregado, juntamente com nossas expectativas de recuperação por setor em 2021, acabamos com um conjunto de empregos zumbis, para os quais os programas do tipo Kurzarbeit podem, na melhor das hipóteses, adiar a perda de empregos.

De acordo com nossa análise, esses empregos equivaleriam a 6% dos empregos totais. Eles são mais numerosos no Reino Unido, assim como na Itália e na Espanha – já que esses países possuem participação relativamente maior em setores de trabalho intensivo, como construção, varejo e alimentação – e menos na Alemanha. Uma das questões que os governos terão de enfrentar é o risco desses empregos zumbis verem alguns trabalhadores permanecerem em setores de crescimento tardio para proteção de renda, em vez de passar para setores de crescimento rápido (como saúde e TI) com melhores oportunidades de emprego em uma recuperação assimétrica. Nesse contexto, a combinação de políticas ativas do mercado de trabalho e subsídios salariais é urgente e importante.

Figura 3: Emprego (% emprego total) em setores de crescimento tardio

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Fontes: Eurostat, Allianz Research
Figura 4: Projeção de perda de empregos (% de emprego setorial) com base na perda de produção esperada até o final de 2021
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Fontes: Allianz Research
Figure 5: Estimativas de emprego limitado  
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Fontes: Eurostat, Allianz Research