Sumário Executivo

Nos 80 anos desde que o Dia Mundial da Alimentação foi criado, a transformação da agricultura, impulsionada por fertilizantes e pelo comércio internacional, ajudou a reduzir a fome global – embora de forma desigual entre as regiões. Desde 1961, o fornecimento global de calorias aumentou cerca de +35%, contribuindo para a redução da desnutrição no mundo. Enquanto a fome global diminuiu quase -4% entre 2000 e 2023, o Sudeste Asiático reduziu a prevalência de fome de 20% para 6% no mesmo período, com a América Latina e partes do Sul da Ásia registrando avanços comparáveis. Ainda assim, a África Subsaariana continua enfrentando grave insegurança alimentar, com quase um quarto de sua população subnutrida.

Mas os avanços na agricultura vieram acompanhados de altos custos ambientais e sistêmicos. O transporte de produtos agrícolas gera cerca de 3 gigatoneladas de CO₂ equivalente por ano, representando quase um quinto das emissões totais do sistema alimentar. O frete de alimentos corresponde a menos de um quinto da atividade total de transporte, mas é responsável por mais de um quarto das emissões relacionadas ao setor, com destaque para o transporte de frutas e vegetais, especialmente intensivo. A ineficiência no uso de fertilizantes é outro grande desafio: em média, apenas 40% do nitrogênio aplicado é absorvido pelas plantações. O restante vaza para os ecossistemas, degradando a qualidade da água e criando “zonas mortas” hipóxicas. Somente nos Estados Unidos, os danos decorrentes da eutrofização de águas doces são estimados em USD 2,2 bilhões anuais.

A agricultura enfrenta um risco de dupla materialidade: ela impulsiona as mudanças climáticas e a degradação ambiental, ao mesmo tempo em que está entre os setores mais vulneráveis a esses efeitos. Nas últimas três décadas, desastres naturais causaram perdas agrícolas estimadas em USD 3,8 trilhões – o equivalente a 5% do PIB agrícola global por ano – sendo as secas responsáveis por dois terços desses danos. A megaseca europeia de 2022 sozinha afetou 143.000 km² de terras, reduzindo a produtividade vegetal em 66.500 km² de áreas agrícolas (+13% acima da média de longo prazo). Na Europa, os rendimentos de cereais caíram cerca de -10%, enquanto as perdas agrícolas e ambientais chegaram a EUR 50 bilhões naquele ano. Nos Estados Unidos, a seca continua sendo o principal fator de perdas agrícolas, com indenizações recordes em 2012, 2020 e 2022. Outros riscos – como enchentes, excesso de umidade e geadas – também aumentaram, revelando uma crescente volatilidade dos riscos climáticos. A maioria das perdas está concentrada na produção de milho e soja, expondo vulnerabilidades estruturais no sistema alimentar dos EUA e destacando a urgência da diversificação e da adaptação. As indenizações de seguros relacionadas ao clima em 2023 foram sete vezes maiores do que em 2000, evidenciando o crescente ônus financeiro sobre os agricultores e sobre o sistema federal de seguros.

Olhando para o futuro, nossa análise sugere que, até 2050, os rendimentos de milho poderão cair -9%, os de trigo -7% e os de soja -4%, gerando efeitos inflacionários em cadeia, especialmente na região Ásia-Pacífico (+27%) e na Europa (+6%). Até 2050, as flutuações na produtividade das lavouras poderão alimentar a inflação global dos alimentos, elevando os preços ao consumidor em cerca de 13% acima da linha de base. A região Ásia-Pacífico deverá registrar o aumento mais acentuado (+27%), liderada por países como Indonésia (+146%), Malásia (+113%), Índia (+31%) e China (+21%). Além dos riscos agrícolas, isso representa uma ameaça macroeconômica, pois a inflação alimentar induzida pelo clima pode desencadear instabilidades econômicas, sociais e financeiras mais amplas. Além disso, a queda nos rendimentos e o aumento dos preços das commodities agrícolas poderão pressionar as margens das empresas do agronegócio: estimamos que cada aumento de 1 p.p. nos preços leve a uma queda de -1,67 p.p. na lucratividade tanto das empresas a montante quanto das a jusante da cadeia.

Para garantir a segurança alimentar e a estabilidade econômica, a agricultura precisa desenvolver resiliência em um clima em transformação. O sistema alimentar global deve fortalecer sua adaptação com base em quatro pilares principais: práticas agrícolas, inovação tecnológica, apoio governamental e redes de proteção financeira. O seguro é uma das ferramentas mais eficazes para fortalecer a resiliência financeira. Os produtos de seguro paramétrico, que vinculam os pagamentos a medidas objetivas, como índices de chuva ou produtividade, oferecem rapidez e acessibilidade, ao mesmo tempo em que reduzem os custos administrativos. As políticas públicas estão ajudando a ampliar esses instrumentos: a União Europeia agora subsidia até 70% dos prêmios, medida que deverá dobrar o mercado global de seguros indexados na próxima década, de USD 18 bilhões atualmente para USD 34,4 bilhões até 2033. No entanto, o acesso ainda é altamente limitado para pequenos produtores, especialmente nos países em desenvolvimento. Para esses agricultores, o microseguro oferece uma solução mais prática: o mercado potencial abrange quase 3 bilhões de pessoas, mas a cobertura efetiva atinge apenas 11,5% globalmente e apenas 8,2% na África.

Hazem Krichene  
Allianz Investment Management SE

Sivagaminathan Sivasubramanian

Allianz Trade

Lluis Dalmau

Allianz Trade

Ano Kuhanathan
Allianz Trade