Resumo Executivo

A Europa já foi uma força relevante em robótica, mas está começando a ficar para trás em relação à China e aos EUA. O investimento em robótica cresceu quase +230% entre 2019 e 2024, e o mercado deve ultrapassar os USD 100 bilhões até 2030. A China se tornou, de longe, a maior consumidora de robôs, respondendo por 51% das instalações anuais de robôs industriais, e sua indústria robótica segue em crescimento constante. A indústria de robótica na Europa corre o risco de ser desestabilizada tanto por players já consolidados, apoiados por políticas industriais robustas, quanto por novos entrantes vindos do ecossistema de tecnologia em meio ao frenesi da IA. Como a robótica pode aumentar a produtividade, ajudar a enfrentar os desafios demográficos da Europa e proteger sua soberania industrial, a região precisa agir agora para não seguir o mesmo destino da indústria automobilística, apoiando-se em cinco alavancas:

1: Desenvolver e implementar uma estratégia europeia para a robótica.
A Europa precisa de um plano estratégico e uma visão operacional clara para impulsionar seu setor de robótica. Sugerimos que esse plano foque na criação de campeões europeus em robótica para atender, em primeiro lugar, setores domésticos que (i) são pouco robotizados, (ii) enfrentam problemas de produtividade ou escassez recorrente de mão de obra e (iii) são difíceis de terceirizar e/ou estratégicos. A saber: transporte e logística, hospitalidade, agroalimentar, construção civil, saúde, aeroespacial e defesa. A Europa também deve evitar perseguir aplicações em que já está muito atrás (como humanoides e veículos autônomos).

2: Ampliar o acesso ao capital para startups de robótica.
A Europa deve fortalecer o arcabouço jurídico e de negócios para aumentar o tamanho crítico do mercado de capital de risco, cujas capacidades de financiamento são complementares aos esforços públicos e privados. A natureza intensiva em capital da indústria de robótica — ainda mais acentuada no desenvolvimento de robôs inteligentes com IA — significa que a Europa não pode abrir mão de nenhum canal de financiamento. Atualmente, os EUA atraem sete vezes mais investimentos de venture capital em IA do que a Europa, o que pode comprometer a capacidade de inovação europeia e causar um atraso tecnológico.

3: Escalar a inovação da pesquisa ao mercado.
A fraqueza da Europa está em sua fragmentação de mercado e falta de cooperação para promover investimentos privados. Nesse contexto, é necessário apoiar a formação de campeões regionais e/ou fomentar a criação de fundos conjuntos para desempenhar um papel de destaque na corrida tecnológica pela liderança em IA. Aumentar a colaboração e as parcerias de negócios por meio de programas de incubadoras entre escolas de engenharia e o setor privado ajudará a desenvolver um ecossistema inovador a menor custo. No âmbito público, recomendamos aumentar em pelo menos 5% o orçamento de sete anos para 2028–2034 (acima de EUR 100 bilhões), estabelecendo uma alocação mínima de investimento dedicada à indústria de robótica (5–10%).

4: Investir na qualificação da força de trabalho e na educação.
Um número significativo de empresas da UE relata dificuldades para encontrar trabalhadores com as competências necessárias para implementar tecnologias digitais, incluindo robótica. Essa escassez é especialmente crítica em setores industriais, onde a falta de operadores técnicos, técnicos em robótica e integradores de sistemas atrasa a adoção de tecnologias avançadas nas fábricas. Agravando a situação, a parcela de empresas da UE que oferecem treinamento aos seus funcionários caiu de 71% em 2015 para apenas 67% em 2020. Uma agenda abrangente de requalificação é essencial. Trabalhadores da linha de frente precisam ser treinados para operar robôs colaborativos com segurança, interpretar feedbacks das interfaces e realizar manutenções básicas. Técnicos devem ser proficientes em programação de robôs, lógica de CLP, alinhamento de sensores e diagnósticos. Em nível estratégico, engenheiros devem ser capazes de planejar fluxos de trabalho robotizados e integrar sistemas ao software corporativo. Expandir o ensino técnico com currículos atualizados, incentivar empresas a investirem na requalificação de seus funcionários e estabelecer uma "Estrutura de Competências em Robótica" unificada em toda a UE são etapas críticas para alinhar a força de trabalho às demandas da manufatura moderna (automatizada).

5: Tornar os marcos regulatórios mais ágeis para fomentar a inovação e a adoção.
A UE precisa equilibrar sua liderança na regulação da IA com a necessidade de estimular a inovação, especialmente na robótica. Embora o AI Act — em vigor desde agosto de 2024 — estabeleça um marco jurídico harmonizado ao classificar sistemas de IA por risco, suas regras rígidas podem desacelerar a inovação e afastar investimentos, principalmente por parte de PMEs. A robótica, fortemente vinculada à IA, enfrenta complexidade regulatória adicional devido à sobreposição de normas de segurança e classificações de risco dinâmicas. Para resolver isso, a UE deve harmonizar regulações, criar "ambientes regulatórios controlados" (regulatory sandboxes) para testes, promover a colaboração internacional e adotar abordagens adaptativas e baseadas em risco que evoluam com a tecnologia e incentivem a inovação setorial.

Ano Kuhanathan
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Maria Latorre
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Guillaume Dejean

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